Conforme definição da Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP),“dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada, ou semelhante àquela associada a uma lesão tecidual real ou potencial”. Evolutivamente, podemos dizer que só evoluímos como humanidade por causa da dor, pois através dela podemos fugir de situações perigosas ou termos um alerta que alguma coisa está errada em nosso corpo. Classicamente, a dor pode ser dividida em aguda ou crônica. Dor aguda é aquela que pode durar até 03 meses (ou 06 meses conforme a literatura), e a crônica, acima desse período. No caso da aguda, os tratamentos medicamentosos clássicos funcionam bem, mas, especialmente na dor crônica, essas medicações não têm o mesmo efeito, pois outras vias no sistema nervoso central são ativadas e o tratamento se torna mais complexo e, por vezes, multidisciplinares. Estima-se que até 40% da população sofra com algum tipo de dor crônica, e, em consultório de reumatologia, a dor é queixa de 98% dos pacientes. Nesse sentido, a dor crônica, devido a sua complexidade, já está sendo tratada não mais como um sintoma, mas sim como uma doença.
Diferentemente da dor aguda, que tem a intenção de proteger, a dor crônica não tem finalidade evolutiva, servindo somente para incomodar, trazer transtornos e sofrimento à vida da pessoa. As causas podem ser as mais variadas, que vão desde doenças crônicas (como fibromialgia, artrites, artroses, dores lombares, enxaqueca e tantas outras), como ligada a doenças tumorais (cânceres em geral), e também podem decorrer de dores agudas mal tratadas, em que apesar do estímulo inicial ter sido resolvido, este foi tão intenso que deixou sequelas nas vias do sistema nervoso central fazendo parecer que a dor ainda está presente.
Os sintomas de dor variam de acordo com cada patologia, mas além destes específicos, vários outros podem acontecer, tais como cansaço, diminuição do apetite, insônia, constipação, perda da libido, bem como boa parte dos pacientes podem ter sintomas psicológicos associados, como transtornos do humor (irritabilidade, ansiedade, depressão e outros).
Pensando nisso, inauguramos no início de 2022 a aliviador – centro de tratamento da dor, um centro multidisciplinar focado no entendimento das necessidades deste paciente. Em geral, esses transtornos não têm cura propriamente dita, mas sim controle. Viver com dor é muito difícil, sendo fundamental o alívio delas para uma melhor qualidade de vida.
Fato comum do paciente com dor crônica é já ter passado em atendimento com os mais diversos profissionais, sem uma melhora efetiva de seu problema e muitas vezes tomando as mesmas medicações “que já não resolvem mais a dor”, chegando a desanimar e não procurar mais por ajuda por aceitar essa situação de sofrimento. Na aliviador temos uma equipe preparada a entender este paciente em toda sua complexidade e com uma abordagem humana, para poder oferecer de maneira personalizada o melhor tratamento para alívio dos sintomas deste paciente.
Dentre as diversas possibilidades de terapias medicamentosas que podem ser utilizados pelo paciente, existem outras tantas que são terapias não medicamentosas que são utilizadas e com boa melhora na maioria dos pacientes. Dentre estas, algumas são oferecidas dentro da clínica:
Acupuntura: hoje, com toda evolução tecnológica e todo conhecimento científico produzido pela medicina ocidental, a acupuntura ainda tem papel relevante e tem diversas indicações bem aceitas, como por exemplo no tratamento de dor (faz parte dos guidelines para tratamento de dores crônicas). E é reconhecida como especialidade médica tanto pelo Conselho Federal de Medicina (1995) quanto pela Associação Médica Brasileira (1998), sendo o profissional médico o mais habilitado para exercê-la. Porém como qualquer terapia disponível, tem suas indicações e contraindicações, bem como teremos bons resultados para maioria das pessoas, mas existem aquelas que são mal respondedoras, sendo que cada caso deve ser individualizado. Dentro destas possibilidades, comumente agregamos na terapia o estímulo elétrico, ou mais simplesmente, eletroacupuntura, com benefícios relevantes na melhora da dor no curto e longo prazo, além de desinflamação da área em tratamento (por exemplo, muito utilizada em problemas articulares e dores lombares). Outra possibilidade é o auxílio da acupuntura com o uso do laser, que também tem suas indicações (por exemplo, obtemos boa resposta para pacientes com síndrome do túnel do carpo).
Neuromodulação: A estimulação elétrica cerebral não invasiva vem sendo estudada com afinco na última década como tratamento em diversas doenças que acometem o sistema nervoso central, como dor crônica, depressão, esquizofrenia, alterações cognitivas e motoras, e como adjuvante em reabilitação tanto fisioterápica quanto fonoaudiológica, apresentando resultados muito satisfatórios. O tratamento consiste em algumas sessões de estímulo, com o paciente acordado, através de eletrodos instalados na cabeça nos locais correspondentes ao que se deseja melhorar. O tratamento é extremamente seguro, e os poucos efeitos colaterais relatados são formigamento e coceira no local do eletrodo, além de dor de cabeça leve. É uma excelente opção para pacientes que apresentam muitos efeitos colaterais das medicações utilizadas como tratamento padrão para dor crônica, ou que não gostam de tomar medicamentos.
Fisioterapia: A fisioterapia no tratamento da dor crônica avalia a eficiência dos movimentos e estimula os exercícios para ganho de mobilidade e estabilidade que geram alívio da dor, tratando diretamente as causas do problema.
O tratamento das dores crônicas por meio da fisioterapia tem por objetivo o reequilíbrio de todos os grupos musculares que estão relacionados, melhorar ajustes corporais estáticos e dinâmicos com foco na abordagem global, fortalecendo os músculos, melhorar a amplitude dos movimentos dando uma melhor percepção corporal ao paciente, garantindo a realização de atividades diárias de maneira independente, reduz quadros inflamatórios, prevenir e tratar as deformidades articulares.
Trabalha de maneira conjunta na causa da dor e no alívio de seus sintomas, o que ocorre gradativamente, tanto pela melhoria da eficiência nos movimentos, como pela analgesia local.
Psicologia: Um aspecto importante do ser humano é que ele é formado de corpo e de mente, intrinsicamente relacionados. Assim, no que diz respeito à dor, pode-se considerá-la como uma experiência sensorial, que sofre influência de aspectos emocionais, cognitivos e interpessoais intimamente interligados com o corpo. Esse entrelaçamento faz com que as variáveis psicológicas da dor crônica sejam olhadas com mais atenção a fim de proporcionar melhor qualidade de vida à pessoa com dor.
Nesse sentido, o processo psicoterapêutico, oferecido às pessoas com dor crônica, tem como objetivo, fazer com que o paciente ressignifique a sua dor, reconhecendo-a, aceitando-a e abandonando as tentativas improdutivas de colocá-la como o centro da sua vida, pois, na medida em que ela é aceita, o paciente pode ampliar o seu olhar, identificando seus valores pessoais, seguir seus objetivos, até então colocados de lado, e realizar atividades prazerosas e realizadoras ao invés de ficar paralisado na dor.
A neuromodulação é uma excelente opção para pacientes que apresentam muitos efeitos colaterais das medicações utilizadas como tratamento padrão para dor crônica, ou que não gostam de tomar medicamentos.