Pólipos são definidos como uma elevação patológica da mucosa no intestino grosso que cresce na luz intestinal. Os pólipos são estruturas importantes na clínica coloproctológica devido ao seu grande potencial de transformação de uma lesão benigna em uma doença maligna (câncer colorretal).
O padrão histológico dos pólipos colorretais incluem os adenomas, pólipos hiperplásticos, pólipos serrilhados, hematomas e pólipos inflamatórios. Outras lesões que se parecem com pólipos, mas são de origem submucosa são as lesões carcinoides, lipomas leiomiomas.
As lesões chamadas de adenomas são pólipos mais comuns encontrados no intestino grosso, sendo lesões que carregam consigo o potencial de serem os precursores do câncer colorretal que hoje no Brasil se coloca como o terceiro mais comum entre os homens e o segundo entre as mulheres e, desta forma, nos trazem imensa preocupação, podendo até serem considerados questão de saúde pública, uma vez que totalizam 35.000 novos casos anualmente em nosso país.
Percentualmente, os adenomas perfazem 50 a 67% de todos os pólipos colorretais encontrados e entram no conceito chamado“ sequência adenoma- carcinoma‘, ou seja, uma lesão benigna (adenoma) que inicia com baixo grau de displasia e segue para moderado grau, alto grau e, subsequentemente, invasão maligna da lesão (câncer).
As lesões polipoides podem se apresentar de várias formas, a pediculada que é tipo cogumelo ou de forma séssil, que são lesões planas, podem variar em quantidade desde serem únicas a múltiplas e, também, variando muito com a relação ao tamanho e extensão de lesão.
Os adenomas são classificados com tubulares, vilosos ou tubolovilosos. A forma tubular é o tipo de adenoma mais comum (75 a 87 % de todos os adenomas).
Em sua grande maioria, os pólipos são lesões assintomáticas, ou seja, não nos trazem nenhum tipo de sinal ou sintomas que nos façam pensar na sua existência e são encontrados geralmente em exames de prevenção (colonoscopia) ou são diagnosticados acidentalmente quando se faz uma colonoscopia por outros motivos.
A suspeita da presença de pólipos aparece quando se realizam exames de rotina, como a pesquisa de sangue oculto fecal, a presença de anemia ou quando se percebe sangramento ao evacuar, outras alterações que podem nos alertar da possibilidade de lesão polipoide, quando localizadas no reto, são a presença de muco nas fezes, sensação de evacuação incompleta, urgência evacuatória e no caso de lesões maiores, diarreia e prolapso via anal.
A localização dos pólipos se dá em todo o intestino grosso, no entanto, existe uma maior tendência de ocorrerem mais distalmente, ou seja, no seguimento de cólon descendente, sigmoide e reto. Estudo realizado nos Estados Unidos demonstra que 8% estão localizados no ceco, 9% em cólon descendente, 5% em flexura hepática, 10% em cólon transverso, 4% na flexura esplênica, 14% em cólon descendente, 43% em sigmoide e 8% no reto.
O fato das lesões polipoides tipo adenomas, serem frequentemente assintomáticas, seguindo a sequência adenoma-carcinoma, as tornam, desta forma, os precursores do câncer colorretal, justificando assim o emprego de métodos diagnósticos que possam identificar e ao mesmo tempo remover estas lesões antes que a transformação maligna aconteça, mudando, desta forma, a história e a vida dos pacientes.
Dos métodos de diagnósticos existentes, com certeza a colonoscopia é de longe o melhor. Estudos demonstram que a colonoscopia tem a capacidade de minuir o risco de incidência do câncer colorretal de 76 a 90% e, desta forma, indiretamente reduzir os índices de mortalidade desta patologia. Mais recentemente e auxiliando na investigação destas lesões, a colonografia por tomografia computadorizada ou colonoscopia virtual vem encontrando seu espaço.
A colonoscopia tem a capacidade de determinar, em pacientes assintomáticos, de 50 anos ou mais, a presença de pólipos de 24 a 50 %, sendo que estas taxas aumentam com a idade e até mesmo dobrando próximo aos 60 anos. Destes pólipos, os adenomas avançados (maiores de 1cm e alto grau de displasia) variam de 3,4 a 9,5%.
A presença de pólipos adenomatosos e adenomas avançados é maior quando se tem familiares em primeiro grau com câncer colorretal ou na presença de adenomas em familiares na idade jovem.
Trabalhos científicos revelam que repetir frequentemente os exames de colonoscopia são necessários, pois os portadores de pólipos têm potencial grande de formar novos pólipos e, também, porque a falha em identificar lesões de aproximadamente 1cm chega a 5% dos exames realizados, de lesões de 6 a 9mm, em 10% e de lesões menores que 5mm pode chegar em 30% a dificuldade de visualizar estas lesões.
Pacientes com três ou mais pólipos identificados a primeira colonoscopia tem demonstrado um maior risco de adenomas avançados e associados a idades maiores que 60, a história familiar positiva para câncer colorretal também são importantes fatores preditivos de incidência de adenomas avançados, desta forma a vigilância deve ser mais rigorosa. Em contrapartida é menor que 1% a taxa de identificação de adenomas avançados após 5 anos em indivíduos onde a primeira colonoscopia foi normal.
Após a identificação da existência de pólipos durante o exame preventivo de colonoscopia, todas as lesões devem ser completamente removidas para confirmação do diagnóstico (adenomas), excluir a presença de malignidade e a potencial necessidade de outros procedimentos.
A grande maioria dos pólipos (adenomas), são possíveis de serem removidos durante o mesmo procedimento de colonoscopia, procedimento conhecido como polipectomia, que pode ser feita usando materiais específicos para remoção a frio (sem eletrocautério), com pinças “hot” (com eletrocautério) e alças. Também se realiza procedimento conhecido como mucosectomia, onde se infiltra a base da lesão, removendo-a por interior ou em fragmentos. Recentemente, associou-se ao arsenal de tratamento endoscópico das lesões, a técnica ESD (Endoscopic submucosal dissection ), onde se realiza a infiltração da lesão e com pinças específicas (kinfe) e fontes específicas de eletrocautério, remove-se por inteiro a lesão para facilitar o diagnóstico preciso da mesma. As complicações inerentes ao procedimento, como sangramento e perfuração, embora com percentual mínimo de ocorrência, podem ser bastante diminuídas com o uso adequado da técnica, por profissionais capacitados e com grande experiência para realizá-los.
A diminuição das taxas de incidência do câncer colorretal e de sua mortalidade são, com certeza, atribuídas à melhora nos mecanismos de prevenção com a realização, cada vez mais, de exames de colonoscopia em pacientes assintomáticos para identificação e remoção de pólipos, um melhor seguimento dos pacientes com colonoscopia repetidas em intervalos de tempo adequadas para cada tipo de lesão, identificação dos grupos de risco e orientá-los da necessidade de acompanhamento através da colonoscopia. Somente desta forma, é que conseguimos reduzir drasticamente a incidência de câncer colorretal, informando adequadamente a população sobre a existência do problema, orientando da necessidade de se realizar a colonoscopia e ao mesmo tempo oferecendo a todos o acesso ao procedimento.